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Sem Justa Causa: O Poema Irmão Alienado


Sem Justa Causa
Poema Irmão Alienado

Pontualidade intacta,
Metas batidas.
Sim, sim senhor.

Fez hora extra, não reclamou,
Pegou serviço que não era seu,
punição com mais serviço,
Sorriu no feedback,
Entregou mais do que pediram,
condenação com mais entrega,
Sorriso inpecável,
Relatório impecável.
Como não, senhor.

Bateu o ponto?

Cumpriu prazos,
Adiantou demandas,
Vestiu a camisa,
Fez curso no fim de semana,
Ficou depois do expediente.
Sim, sim senhor.

E o ponto, bateu?

Trouxe ideias,
Propôs melhorias,
Evangelizou processos,
Criou padrões,
Organizou o caos,
Desenvolveu a empresa sem pedir aumento.
Mais uma redução salarial,
Como não, senhor.

Bateu o ponto outra vez?

Mas a folha de pagamento incha.
O chefe precisa cortar gastos.
O orçamento apertou.
A empresa mudou de estratégia.
A crise veio.
A fusão aconteceu.
O patrão decidiu.
Sim, sim senhor.

O eco das máquinas que eu não opero mais.
Dedicação, dedicação, dedicação, dedicação, dedicação.
Entrega, entrega, entrega.
Ponto, ponto, ponto.
Desligamento.
Como assim, senhor?

Demissão.

A palavra pesa como um corte seco na garganta e orçamento,
assinada sem culpa, selada sem nome.

O crachá vira passado.
Operários abalados.
Medo de serem o próximo.
Alívio de não serem agora.
Olhares de pena e condenação.

O relógio de ponto esquece minha digital.
A porta se fecha. O futuro racha.
As contas se acumulam onde antes havia salário.

Não pude dizer não.
Não sei dizer não.

Desespero.
Destruição.

E eu,
soterrado, virado suco, virado a noite,
sem choro, sem cela, sem oração,
sinto enterrado e errado tudo que fiz certo.

Acordei, acordei, acordei.

"Não esqueça de bater o ponto antes de partir."



***



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