Pior do que o Tédio é o tipo de obra que não nasceu pronta. Foi surgindo conforme os passos do seu criador.
Tudo começou nas minhas idas e vindas pelo Centro da cidade de São Paulo de quando cedi boa parte do meu tempo trabalhando como operador de telemarketing.
Se isso te provocou uma reação semelhante a um “putz”, que merda”!, saiba que foram seis anos vivendo com a cabeça e ouvidos logados a um sistema inteligente e eficiente de ligações ininterruptas.
E por mais que telemarketing esteja associado a televendas, no meu caso era pior.
Era um telemarketing ativo e receptivo de cobranças.
Era terceirizado por um grande banco, para ir a caça de seus clientes devedores.
Unir o banco a seu dinheiro de empréstimos, perdido nas dívidas de quem tomou e não pagou.
E tinha metas.
Merdas que escutava e falava. Cobrança que fazia e que o supervisor cobrava. Tudo em nome de salvar o prejuízo financeiro da instituição financeira.
Um banco que depois se fundiu a outro e que ao longo do tempo tornou-se minha primeira grande pedra no meu caminho.
Um instante observando a paisagem degrada dentro da central e lá fora, de uma janela por onde enxergava um recorte do centro da cidade de São Paulo.
Uma cidade ainda mais cinza por natureza devido a sujeira acumulada no vidro da janela que só via a água da chuva e fezes de pombos e urubus.
De todos sentimentos, o que mais sentia era o Tédio, com um T bem grande como o da música da Legião Urbana.
Minha cura era escrever versos, frases.
Textos que com o tempo lotavam cadernos e mais cadernos que carregava comigo diariamente na mochila.
O peso que começou a cobrar de minhas costas não era maior do que a cobrança do supervisor exigindo-me mais atenção as ligações perdidas e cumprimento das metas.
Um peso em dobro, já que a essa altura me importava mais na cura do meu Tédio pelas poesias que criava do que com a pedra grande que era o banco.
E tome feedback (neste contexto chamávamos de Feed crau, a sofisticação em dar um arranca rabo no funcionário).
Tome bronca, advertência, suspensão(mais de três suspensões o efeito colateral era demissão por justa causa).
Tome conselhos dos amigos. Teimoso como sou, preferia tomar minhas poesias. E de tanto tomar, tempos depois tomei conta da obra poética que tinha escrito.
Tomei noção do caminho que escrevi, verso a verso, caminhando até hoje, dizendo coisas sobre minha existência, percepção de vida. Uma dose poética que tomo até hoje.
As poesias que tomam as postagem que farei neste espaço, em grande parte surgiram na época que trabalhava no call center, mas só algumas, bem poucas,são narrativas de lamentos da vivência como operador de telemarketing.
O cinza do centro de São Paulo e a vida de teleoperador serviram como a lenha bruta da fogueira crepitante que cozinhava a solução para meu remédio:minha poesia.
O que é Pior do que o Tédio?
Esta era a pergunta que mentalmente me fazia e que era o ensejo para começar a escrever.
Neste ínterim, para tentar sobreviver, além de muito café, bate papo com vizinhos de baia, reservava um tempo só para mim.
A composição principal era tomar nota de como percebia o cotidiano ao meu redor.
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