Justa Causa - O Poema Irmão Enlutado

Justa Causa

Poema Irmão Enlutado

Faltas injustificadas,

Desídia. Advertência.

Ato de indisciplina ou de insubordinação,

Negociação habitual,

Jogos de azar,

Violação de segredo da empresa,

Desídia, Desídia. Advertência.

Sonho acordado entre as arestas do cubículo da firma.

Bateu o ponto?

Condenação criminal,

Registros manchados,

Embriaguez habitual ou em serviço,

Incontinência de conduta,

Incontinência urinária,

Mau procedimento,

Ato de improbidade,

Lesões à honra e à boa fama,

Desídia, Desídia, Desídia, Desídia. Advertência. Suspensão.

Sonho acordado no dia perdido no quarto alugado.

E o ponto, bateu?

Abandono de emprego,

Agressão física ou verbal,

Atos atentatórios à segurança nacional,

Prática constante de jogos de azar,

Desídia, Desídia, Desídia, Desídia, Desídia. Advertência, Advertência. Suspensão.

Pesadelo acordado sentado no banco do bar da esquina.

Bateu o ponto outra vez?

Perda de parte dos direitos rescisórios,

Sem aviso prévio, sem indenização,

O saldo das horas evapora,

O fundo de garantia fica retido,

Seguro-desemprego negado,

A mais-valia já descontada,

Lucro absorvido, suor esquecido.

O eco das máquinas que eu não opero mais.

Desídia, Desídia, Desídia, Desídia, Desídia, Desídia.

Advertência, Advertência, Advertência.

Suspensão, suspensão, suspensão.

Acordo assassinado.

Demissão.

A palavra pesa como um carimbo de condicional revogada,

Queimando o nome no papel.

O crachá vira passado.

Operários abalados.

Medo de serem o próximo.

Alívio de não serem agora.

Olhares de pena e condenação.

O relógio de ponto esquece minha digital.

A porta se fecha. O futuro racha.

As contas se acumulam onde antes havia salário.

Desespero.

Destruição.

E eu,

soterrado, virado suco, virado a noite,

sem choro, sem vela, sem oração,

sinto enterrado e errado todos os meus erros.

Acordo do sonho acordado.

"Não esqueça de bater o ponto antes de partir."

***

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Sem Justa Causa: O Poema Irmão Alienado

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