Conversa entre Manay Deô e Evandro Siol sobre Comunicação e Sociedade
Uma conversa perdida entre os amigos Manay Deô e Evandro Siol, realizada na época da faculdade, quando a cultura dos blogs ainda estava em alta. Temas como comunicação, filosofia, redes sociais e sociedade são abordados em um período em que muitas das problemáticas que hoje são elementos-chave e decisivos para os rumos do nosso tempo histórico ainda eram embrionárias. Um papo antigo, mas que parece estar acontecendo agora, no calor dos acontecimentos.
Manay Deô:
"Um filósofo disse: ‘Vivemos dentro de uma jaula (a sociedade), porém suas grades são flexíveis.’ Eu pirei nisso.
O ser humano tem um comportamento previsível, condicionado pelo meio social. Gostos, valores, preferências... tudo imposto pelas forças externas. Dentro desse contexto, será que existe espaço para o indivíduo ser realmente individual?"
Evandro Siol:
"Manay, não sei se existe esse espaço. Desde que nascemos, somos moldados. Livre arbítrio? Sei não... No máximo, podemos entortar um pouco as grades da jaula. Mas ser livre de verdade? Difícil.
Aristóteles dizia que o homem é um animal social. E a prova disso? O Selvagem de Aveyron. O moleque cresceu na floresta, sem contato humano, andava de quatro, não sabia falar... Demorou CINCO anos pra aprender algumas palavras.
Ou seja, se não vivêssemos em sociedade, seríamos apenas mais um bicho na selva."
Comunicação ou INcomunicação de Massa?
Evandro Siol:
"Agora é minha vez de te jogar uma reflexão:
‘Falar em comunicação de massa só mesmo entre aspas. O termo mais adequado é INcomunicação de massa.’
Pensa nisso e me fala o que acha."
Manay Deô:
"Faz sentido, mano. Na real, a Escola Birgman já sacou isso há tempos. Em vez de chamar de Meios de Comunicação de Massa (MCM), eles preferem ‘Meios de DISTRIBUIÇÃO de Mensagens’ (MDM).
Porque, pensa só: comunicação de verdade rola quando há interação. Na TV, a gente pode dar ‘bom dia’ pro apresentador, mas ele não responde. Ou seja, não há comunicação real.
Outro exemplo: os seriados americanos. Eles refletem a cultura deles, não a nossa. Assim como uma novela gravada no RJ ou SP não tem nada a ver com a realidade de quem mora no meio da Amazônia."
Evandro Siol:
"A real é que buscamos identidade desde pequenos. Quando crianças, imitamos nossos pais. Depois, buscamos referências em personagens da TV, no esporte, na música...
Mas a TV vende uma realidade que gostaríamos que fosse real, mas não é. O padrão de beleza imposto, por exemplo... Dietas, cirurgias, academia. Uma busca pela perfeição que nunca chega.
E tem mais: a fantasia na TV tem um efeito anestesiante. Dá esperança, conforma. Todo menino já sonhou em ser jogador de futebol, né?
A ilusão incentiva a luta, mas ao mesmo tempo mantém todo mundo alienado. A gente só segue o jogo, sem perceber que já tá programado pra isso."
Propaganda e Manipulação: A Ilusão da Imagem
Manay Deô:
"A propaganda age na subjetividade das pessoas. Ela lida com desejos de forma sedutora e dissimulada.
Quer um exemplo? Eu sei que comprar aquela roupa não vai me fazer parecer com a atriz do comercial, mas, mano, pelo menos me aproxima disso.
Não sou um empresário de sucesso, mas se eu puder comprar um carro, mesmo popular, já me sinto inserido num grupo.
No fim das contas, a propaganda não vende o fato. Ela impõe uma ideologia dominante sobre o que devemos desejar."
Evandro Siol:
"Isso me lembrou um projeto de lei que rolou na Câmara. Queriam proibir o uso de ‘imagens meramente ilustrativas’ em propagandas.
Se passasse, as marcas seriam obrigadas a mostrar o produto REAL, sem truques de Photoshop.
Agora imagina o impacto disso na publicidade? O quanto a gente já foi enganado por imagens manipuladas?"
Manay Deô:
"Isso me lembrou aquele filme Um Dia de Fúria, com o Michael Douglas.
Tem uma cena clássica: ele entra num fast food e fica PUTO quando percebe que o hambúrguer que ele comprou é bem diferente do que estava no outdoor.
Aí eu penso... A gente vive rodeado de ilusões. Desde a comida que compramos até a forma como nos vendem felicidade e sucesso.
No fim das contas, propaganda é só um jeito sofisticado de vender um sonho que não existe."
Redes Sociais: Privacidade ou Big Brother Digital?
Evandro Siol:
"Falando nisso, pensa no fenômeno das redes sociais. Hoje, parece que estamos o tempo todo sendo vigiados.
Na Idade Média, as cidades eram pequenas, todo mundo sabia da vida de todo mundo. Mas depois veio o conceito de privacidade.
Aí, surge a internet, e pronto: voltamos a estar expostos, só que numa escala global.
O Facebook, por exemplo, virou um monstro. No começo, parecia inofensivo. Agora, vende nossos dados sem o menor pudor."
Manay Deô:
"E não para por aí! Agora até a Assembleia de Deus tem sua própria rede social. Mas com um detalhe: ela é paga.
Imagina... Você paga pra interagir com outros fiéis e ainda pode contribuir com o dízimo online.
Enquanto isso, Mark Zuckerberg, Google e cia só observam e continuam faturando.
E no meio disso tudo, fica a pergunta: até que ponto as redes sociais são uma ferramenta de liberdade ou só mais uma jaula onde as grades são invisíveis?"
Evandro Siol:
"É, parceiro, no fim das contas, parece que a gente só tá se enganando.
Nos vendem liberdade, mas somos prisioneiros das nossas próprias escolhas.
E aí, será que a gente tem alguma chance de fugir disso ou só nos resta escolher qual ilusão nos conforta mais?"
Manay Deô:
"Boa pergunta, mano...
Vou pensar. E quando descobrir a resposta, te mando um zap.
Se é que existe uma resposta."
O artigo "Manay Deo feat. Evandro Siol: Conversação sobre a Arte de Rua e a Cidade" apresenta uma discussão rica sobre a interseção entre arte urbana e o espaço urbano, explorando como o grafite e outras formas de expressão artística influenciam e são influenciadas pela dinâmica das cidades.
A conversa aborda temas como a efemeridade da arte de rua, a relação entre artistas e o ambiente urbano, e a percepção pública dessas manifestações artísticas.
A seguir, uma lista de 20 autores brasileiros cujas obras dialogam com as temáticas mencionadas:
Guilherme Wisnik: Arquiteto e crítico, explora a relação entre arte, arquitetura e cidade.
Raquel Rolnik: Urbanista, aborda questões de planejamento urbano e direito à cidade.
Milton Santos: Geógrafo, discute a urbanização e a experiência urbana no Brasil.
Lúcio Costa: Arquiteto, refletiu sobre o urbanismo e a integração da arte na cidade.
Flávio Villaça: Urbanista, analisa a estrutura urbana e a segregação espacial.
Nestor Goulart Reis: Historiador, estuda a formação das cidades brasileiras e suas expressões culturais.
Carlos Nelson Ferreira dos Santos: Sociólogo, investiga a participação popular na construção do espaço urbano.
Ermínia Maricato: Urbanista, foca em políticas urbanas e habitação.
Paulo Mendes da Rocha: Arquiteto, refletiu sobre a relação entre arquitetura, arte e cidade.
Jorge Wilheim: Urbanista, discutiu planejamento urbano e a humanização das cidades.
Ruth Verde Zein: Arquiteta, pesquisa sobre arquitetura contemporânea e espaço urbano.
Abílio Guerra: Arquiteto, escreve sobre arquitetura, urbanismo e arte pública.
Silvio Ferraz: Compositor, aborda a relação entre música, espaço e cidade.
Aracy Amaral: Historiadora da arte, estuda arte contemporânea e sua inserção urbana.
Tadeu Chiarelli: Crítico de arte, analisa a arte contemporânea brasileira e suas manifestações urbanas.
Ana Maria Tavares: Artista plástica, trabalha com intervenções urbanas e a percepção do espaço.
Nelson Brissac Peixoto: Filósofo, investiga a estética urbana e as intervenções artísticas na cidade.
Regina Silveira: Artista visual, conhecida por suas intervenções que dialogam com o espaço urbano.
Cildo Meireles: Artista plástico, suas obras frequentemente interagem com o ambiente urbano e questionam a percepção espacial.
Walter Lippold
Esses autores oferecem perspectivas diversas sobre a arte, a cidade e as interações entre elas, enriquecendo o debate proposto no artigo mencionado.
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