Uma viagem pela arte, resistência e história na selva de concreto de São Paulo.
FONTE: Zebra (c.1972). Claudio Tozzi
Piorzinho encontra a Zebra de Cláudio Tozzi, em plena Praça da República, e embarca em um passeio pelas histórias e memórias de um artista que transformou o caos urbano em arte e resistência.
O Caminho até Aqui – Pior do que o Tédio e as Cruzadas Poéticas
Você, leitor, deve ter chegado aqui por um dos três caminhos: ou se deparou comigo por acaso, enquanto o algoritmo louco decidia que eu era uma boa fonte para sua pesquisa, ou foi indicado por alguém que leu o livro Pior do que o Tédio, ou, quem sabe, comprou o livro e resolveu seguir o link ou escanear o QR code que fala das minhas andanças pelo centro de São Paulo. Pouco importa como chegou.
O que importa é que agora você está aqui, pronto para mergulhar comigo nessa narrativa urbana, onde realidade e ficção se misturam como as tintas na parede de um viaduto.
Quando a Arte Tomou as Ruas
Era um daqueles dias cinzentos, onde a selva de concreto de São Paulo parecia engolir tudo à sua volta. Eu, Piorzinho, vagava sem rumo certo pelo centro da cidade, tentando escapar do tédio que me perseguia como uma sombra. Foi então que, ao dobrar a esquina da Praça da República, meus olhos se depararam com um gigante: a Zebra de Cláudio Tozzi.
Zebra, zebra, zebra, gritava a cidade silenciosamente.
A parede do prédio era o palco, e a Zebra, a estrela que dançava no ritmo frenético do cotidiano paulistano. Subitamente, a Zebra se mexeu, e sem que eu percebesse, já estava montado em seu lombo, cavalgando pela história da arte, da resistência, e das lutas urbanas.
Zebra corre, Piorzinho olha, a cidade dança.
O Início da Viagem: O Artista e Suas Primeiras Obras
Enquanto passeávamos pelas ruas movimentadas, a Zebra começou a contar a história de seu criador.
Cláudio Tozzi, nascido em São Paulo em 1944, começou sua jornada artística como pintor e mestre em arquitetura pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP).
Desde cedo, sua arte já trazia o espírito contestador e crítico que marcaria sua carreira.
Desenha, Tozzi desenha, revolta desenha.
Em 1962, Tozzi venceu o concurso de cartazes para o 11º Salão Paulista de Arte Moderna, e a partir de 1963, quando iniciou seus estudos na FAU/USP, mergulhou de cabeça no universo da arte urbana e política.
Sinais de trânsito, bandeiras, letreiros, símbolos do consumo.
Tozzi retirava esses elementos do seu contexto original e os reimaginava em novas composições, conferindo-lhes novos significados.
O urbano se misturava ao político, o cotidiano se fundia ao contestador, e assim nasciam obras que provocavam, que faziam pensar.
O Clímax da Luta: Guevara Vivo ou Morto e a Ditadura
Nossa zebra galopava, e as memórias de Tozzi ganhavam vida. Chegamos ao ano de 1967, um ano marcado pelo fogo da resistência e pela brutalidade da repressão.
Foi nesse contexto que Tozzi criou uma de suas obras mais icônicas: "Guevara Vivo ou Morto".
Che vive, Che luta, Tozzi pinta.
A obra, exposta no 4º Salão Nacional de Arte Contemporânea, era um grito de resistência em um país sufocado pela Ditadura Militar. Mas o grito foi silenciado, ao menos temporariamente.
A obra foi atacada, destruída a machadadas por um grupo radical de extrema direita. Mas o espírito de Che e de Tozzi não seria calado tão facilmente. A obra foi restaurada, e com ela, a mensagem de que a arte é uma forma de luta, de que a memória não pode ser apagada.
GUEVARA VIVO, MORTO, LUTA
Luta viva, arte luta,
Tozzi desenha, cria, rebela,
Arte em movimento,
praças, galerias, campos abertos.
Nasceu em São Paulo, 1944,
Iniciou na FAU, quente, febril,
Arte política, panfleto de cor,
Aproxima o povo, levanta clamor.
Luta na rua, arte na praça,
Che Guevara, herói sem laço,
Serigrafia a preço popular,
Vendida em estádios,
Nas ruas, no ar.
Guevara vivo, morto,
Cores estampadas, voz,
extremistas o destruíram,
mas Tozzi reconstrói,
Levanta a imagem, levanta a voz.
Golpe militar, 1964,
FAU fermentava,
sonhos de liberdade,
transformações culturais.
Luta no papel,
Nos muros, nas praças,
Tozzi denuncia, grita,
Apropria-se de signos,
Trânsito, outdoors,
Histórias em quadrinhos,
O artista desvia,
O significado,
Inverte a narrativa.
Arte pública, de alcance,
Tozzi tira das galerias,
leva ao povo,
Panfletário, revolucionário,
Arte não é só estética,
É ferramenta de luta,
É manifestação.
Caminha pelos anos,
Experimenta, evolui,
Pop art emerge,
Novo realismo assume.
Leva a arte às ruas,
Em praças, em gritos,
Transforma Che em ícone,
Na Bolívia, na América Latina,
Luta sem fronteiras,
Continente inteiro,
Sonhos de revolução,
Realidade, poesia,
Arte vive, Tozzi cria.
1968,
Guevara atacado,
Machado de ódio,
Direita extrema,
Radicalização ideológica,
AI-5 sufoca,
Mas Tozzi, resistente,
Reconstrói, reinventa.
Sua obra incomoda,
Rasga o circuito fechado,
Não é só estética,
É engajamento,
Realidade crua,
Contradição política,
Social,
Heróis de multidão,
Comícios, greves,
Passeatas, protestos,
Sonhos revolucionários,
Imagens construídas,
Metódicas, gráficas,
Tozzi não é intuitivo,
Reflete, transforma,
Luta deixa o panfleto,
Entra na clandestinidade,
Repressão força silêncio,
Mas a arte continua,
Persistente, presente.
Machado ataca, arte resiste, Tozzi resiste.
Seguimos em frente, a Zebra e eu, enquanto ela me contava sobre a transição de Tozzi para a Europa em 1969, onde ele continuou suas pesquisas artísticas, explorando novas formas e cores, mas sem jamais abandonar o impulso crítico que sempre caracterizou seu trabalho.
A Mutação da Zebra: Anos 70 e as Cores da Resistência: Zebra muda, cores mudam, Tozzi muda.
Nos anos 70, Tozzi começou a explorar novas formas de expressão. Seu trabalho perdeu o caráter panfletário que havia marcado suas obras anteriores, mas ganhou em sofisticação e complexidade formal.
As cores, antes carregadas de significados políticos diretos, agora se transformavam em elementos de pesquisa cromática e formal.
Foi nessa época que a Zebra nasceu, estampando a lateral de um prédio na Praça da República em 1972. Zebra é cor, zebra é forma, zebra é resistência.
Ela se tornou um ícone da arte pública em São Paulo, uma presença constante no caos urbano da cidade.
Mas a Zebra não estava sozinha. Durante essa década, Tozzi também produziu obras como "Dissociação das Cores" (1974) e "Colors" (1975), onde ele combinava a pintura com o uso de palavras, criando uma espécie de poesia visual que dialogava com o construtivismo e o minimalismo.
Palavras se misturam, cores se dissociam, Tozzi experimenta.
O artista continuava a se reinventar, e nós, a Zebra e eu, continuávamos a nossa jornada por essa história de inovação e resistência.
Anos 80 e 90: A Geometria da Imagem
Entramos nos anos 80, e a Zebra começou a falar sobre uma nova fase na carreira de Tozzi. Geometria entra, formas se redefinem, Tozzi explora.
O artista começou a explorar temas figurativos e a tendência à geometrização das formas.
Ele utilizava um rolo de borracha de superfície reticulada para criar texturas e volumetrias em suas obras, agregando novas camadas de complexidade a seu trabalho.
Foi durante essa época que Tozzi começou a criar painéis para espaços públicos, como o painel da Estação Sé do Metrô de São Paulo em 1979, e mais tarde, os painéis da Estação Barra Funda em 1989, e da Estação Maracanã do Metrô Rio em 1998. Painéis surgem, espaços públicos ganham cor, Tozzi deixa sua marca.
A Zebra me conduziu até a Estação Sé, onde o painel de Tozzi se misturava à multidão que passava apressada. Multidão corre, painel fica, arte permanece.
Era como se cada um daqueles rostos anônimos fosse tocado pela arte, mesmo que apenas por um breve instante, antes de seguir seu caminho na selva de concreto.
A Crítica Social e a Evolução da Arte: Tozzi critica, Tozzi evolui, arte se transforma.
Nossa jornada continuava, e a Zebra me conduziu até os anos 90, quando Tozzi começou a ganhar reconhecimento internacional.
Em 1993, ele apresentou uma exposição individual no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ), consolidando sua posição como um dos grandes nomes da arte contemporânea brasileira.
Mas Tozzi nunca perdeu de vista sua conexão com a cidade, com o espaço público e com as questões sociais.
Cidade inspira, cidade devora, Tozzi responde. Sua obra sempre foi um reflexo das tensões e contradições da vida urbana, uma maneira de dar voz às angústias e esperanças que permeiam o cotidiano.
E foi assim que a Zebra e eu chegamos ao final da nossa jornada. Zebra para, Piorzinho desce, a cidade continua.
A Praça da República estava ali, pulsando com a energia de São Paulo, e a Zebra, sempre vigilante, continuava a observar a cidade que a inspirou.
O Legado de Tozzi e a Zebra da Praça da República
Desci do lombo da Zebra e olhei para a imponente obra de Tozzi, agora com uma nova compreensão. Tozzi cria, Tozzi luta, Tozzi permanece.
A Zebra, com suas listras vibrantes e formas geométricas, é mais do que um simples mural; é um símbolo de resistência, de inovação e de compromisso com a arte pública.
Arte é luta, arte é vida, arte é resistência. Cláudio Tozzi deixou um legado que continua a inspirar novas gerações de artistas e a desafiar as convenções estabelecidas.
Sua Zebra, assim como suas outras obras, é uma testemunha silenciosa das transformações sociais e culturais que moldaram São Paulo e o Brasil.
E eu, Piorzinho, saio dessa viagem com a certeza de que a arte, quando verdadeiramente engajada, é capaz de transcender o tempo e o espaço, criando pontes entre o passado e o presente, entre o indivíduo e a coletividade.
Zebra volta, cidade continua, arte persiste. E assim, a Praça da República segue seu curso, com a Zebra de Cláudio Tozzi sempre atenta, sempre presente, um lembrete constante de que a arte é, e sempre será, uma forma de resistência e expressão.
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Claudio Tozzi e os anos 60 - Opinião - Espaço Húmus
Descubra os anos 60 através dos olhos de Claudio Tozzi, artista plástico renomado. Neste vídeo do Espaço Húmus, Tozzi compartilha suas perspectivas sobre política e espaço público durante essa década revolucionária.
Claudio Tozzi
Claudio Tozzi é um renomado artista plástico brasileiro, nascido em São Paulo em 1944. Com uma carreira que começou na década de 1960, Tozzi é conhecido por sua abordagem vibrante e colorida, utilizando-se de formas geométricas e uma paleta intensa para criticar e refletir sobre questões sociais e políticas. Seu trabalho é uma fusão de pop art com influências do concretismo e do cubismo, frequentemente incorporando elementos da cultura de massa e ícones urbanos para explorar a complexidade da vida contemporânea. Tozzi tem suas obras expostas em diversos museus e galerias pelo mundo, consolidando-se como uma voz significativa no panorama artístico brasileiro.
Texto criado com o auxílio de IA sob a direção criativa de um mano chamado Elidio Santos.
FONTES:
Glatt: Cláudio Tozzi – Glatt: https://www.glatt.com.br/artistas/claudio-tozzi
Escritório de Arte: Cláudio Tozzi - Escritório de Arte: https://www.escritoriodearte.com/artista/claudio-tozzi
Memórias da Ditadura: Guevara Vivo ou Morto (1967), de Cláudio Tozzi: https://memoriasdaditadura.org.br/cultura/guevara-vivo-ou-morto-1967-de-claudio-tozzi/
Wikipédia: Cláudio Tozzi – Wikipédia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Claudio_Tozzi
Campani Cultural: Claudio Tozzi e sua obra: Guevara, Vivo ou Morto: https://www.campanicultural.com.br/2011/08/claudio-tozzi-e-sua-obra-guevara-vivo.html
Jornal da USP - Arte de Claudio Tozzi pulsa há 50 anos no ritmo da metrópole: https://jornal.usp.br/cultura/arte-de-claudio-tozzi-pulsa-ha-50-anos-no-ritmo-da-metropole/
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