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Finalmente Saí do Armário

 Faz tempo que desejava revelar o que minha alma já dizia em palavras
Retrato de Elidio Santos com um efeito amarelo vibrante. Ele usa óculos, uma camiseta gráfica e um capacete invertido, com um fundo de caça-palavras e seu nome destacado.
Elidio Santos – Entre palavras, criatividade e irreverência.

Faz tempo que desejava revelar o que minha alma já dizia em palavras

A gente passa uma vida ignorando verdades que dizem sobre quem nós somos, e preferimos nos pagar de santos desavisados no inferno que é não se assumir.

Não, esse texto não diz respeito sobre sexualidade, mas sobre minha essência, o “eu” que tanto respondemos errado quando perguntados “quem é você?”, sempre damos preferencia, de forma consciente ou não, em dizer sobre nossa vida profissional.

No meu caso, respondo publicitário, comunicólogo, redator. A cada vez que metia os pés pelas mãos na resposta, a vida agia feito meme que dá um tapa de mão a berta na cara, se escondendo de vergonha e raiva.

''O publicitário é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é bom
O produto que ele vende''

-trecho de "Autoportifólio", minha versão para o poema
Autopsicografia de Fernando Pessoa.

Depois de tempos escrevendo, essa paixão que carrego comigo desde antes de ser alfabetizado, é que me dei conta da urgência de me assumir.

A vida, tem muitas boas razões de sua vergonha raivosa, pois exemplos não faltaram para eu me tocar. Lembro de momentos da infância, que sem noção alguma, carregava nas mãos a certeza que só hoje enxergo.

Era uma vez, duas e mais…

Devia ser na 3ª ou 4ª série. Faltava menos de uma hora para terminar a aula, e antes de sermos dispensados, a professora pediu para que nós escrevêssemos uma historinha.

Boa parte da sala, tratou de eliminar rápido a tarefa. Eu, lembro da sensação de alegria que tive. Não recordo sobre o que era a história, talvez sobre um cão que foi sequestrado.

Me empolguei tanto, que fui um dos últimos a terminar. Restava pouco tempo para o sinal tocar, mas teve tempo da professora ler o que eu tinha escrito.

A imagem da professora, encantada com meu pequeno conto, ainda é nítida. Minha mãe, preocupada que seu filho teria aprontado algo, por não ter saído, foi chamada a sala pela professora, que só tecera elogios sobre meu feito.

Não, esse texto não é sobre vaidade. Mas sobre a descoberta de um amor. Amor pelas palavras. Amor pela poesia. Paixão por contar histórias e criar experiências literárias.

Escrevi meu primeiro livro aos 11 anos, sem editora, feito com folhas de sulfite dobradas ao meio, lançado na livraria imaginária do meu quarto. O público cativo eram minha irmã e irmão. Era a história do peixinho Gegê, que vivia altas aventuras no mar, trolando seu arqui-inimigo Tubarão.

Com o sucesso do primeiro, veio o segundo, escrito em co-autoria com meu irmão. Era uma série de Gibis, chamado “Lutinhas”. Criamos personagens lutadores, que para salvar a Terra, combatiam inimigos em uma arena. Dessa vez, conseguimos cativar os amigos da escola, que liam as histórias, torcendo pelos personagens protagonistas “Snink” e “Veterano”. Na season finale, os dois personagens se enfrentariam. Os amigos, empolgados, fizeram uma votação, para saber quem venceria e salvaria o mundo.

De lá para cá, essa relação com as palavras só cresceu. De verso em verso, lotei cadernos e terabytes do Google Docs. Criei um universo de poemas, histórias, contos.

Agora, de forma oficial, estou a pouco meses de lançar mais um livro. Uma experiencia poética que fala de minhas vivencias no centro de São Paulo e como se curar do Tédio dessa selva de pedra.

E ainda não tinha me assumido como Poeta e escritor. Parece coisa óbvia. Dãããã! Escreve poesia, logo, poetas é. Mas e a coragem de sair por aí, aos quatro ventos, dizendo para quem quiser escutar e ler:

Sou poeta!
Sou poeta e não aprendi a amar!
Poeta sonhou e amou na vida.

Não sou nada sem minhas referencias

Na adolescência, comi com farinha, sem me engasgar, livros de Fernando Pessoa e me encantei com a “gêneses dos heterônimos”.

O feitiço foi tão grande, que crie o meu: Manay Deô, heterônimo criativo do publicitário Elidio Santos. Uma entidade literária que me acompanha até hoje, e que sempre gerou curiosidade em quem lia o que eu escrevia em meus perfis na redes sociais, e que ao final assinava com seu nome. Cheguei até criar um perfil no facebook e no Medium.

Sou poeta.
Maestro da minha composição.

Vivo no concreto, distraindo o cinza,
e dele extraio o colorido abstrato
da imaginação.

- Trecho do poema "A Viagem para Dentro de mim"
por @manaydeo

Por influencia de um amigo na faculdade, aprendi a sentir o prazer de brincar com as palavras e sentimentos do mundo com as poesias de Carlos Drummond de Andrade.

Seguia o mestre, arriscando aforismos e sentenças curtas, que hoje chamam de frases lacradoras, mas sem a superficialidade liquida. Até inventava palavras, correndo o risco de ter minha reputação de redator questionada, já que muitos interpretavam essas “invencionices palavrais”, erros crassos.

Drummond, dentre outras referencias, foi a pedra filosofal no meu caminho que serviu como gatilho, para que na faculdade de publicidade e propaganda, eu decidisse: vou seguiria minha trajetória profissional como Redator Publicitário.

No inicio, meus versos pareciam com os das minhas referencias. Natural para quem está começando a se descobrir. Mas logo, encontrei meu estilo.

O que me impede de ser?

Então, que coragem é essa que faltava para dizer: Sou Poeta? Com tanta coisa escrita, livro saindo do forno, custava logo se assumir?

Verdade seja dita, quantos conseguem ter a sorte dos poucos, que logo cedo se descobrem para o que nasceram. Eu não ganhei nessa loteria, e por muito tempo tive que viver a vida de um rapaz comum da periferia: Trabalhar, ajudar em casa, estudar.

Não, esse não é um relato sobre minha vida. Minha intenção não é te conectar com o que tive que ralar e conquistar. Quero partilhar minha experiência de descoberta como poeta e escritor. Dividir esse peso, escrevendo.

Escrever para viver,
na esperança de nunca parar.
No máximo, para inspirar.
No mínimo, para transformar.

Hoje, minha resposta ao “Quem é você” é uma continua construção que escrevo como poeta, escritor e criador.

Seja lá o que foi que me impediu de sair do armário, agora crio meu texto de coragem. Manifesto de sinceridade para ser justo comigo e com o que o universo me entrega.

Texto postado originalmente no meu perfil no Linkedin, em em 25 de novembro de 2018.

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