Rafael Braga Vieira: O retrato de uma justiça que escorrega na lama da desigualdade
Enquanto dormia sob a fria sombra de uma marquise, Rafael Braga Vieira, homem negro e morador de rua, foi arrancado do seu sono pela mão pesada de um Estado que escolhe seus alvos com precisão cruel. Era 20 de junho de 2013, e o Rio de Janeiro fervilhava com milhares de vozes nas ruas. Rafael não carregava cartazes nem gritava palavras de ordem.
Em suas mãos, apenas uma vassoura e duas garrafas de plástico lacradas: uma de Pinho Sol, outra de água sanitária. Objetos comuns, transformados em "armas" pela lente distorcida de um sistema que criminaliza a pobreza.
Algemado nos pés, como outrora se fazia com os escravos, Rafael foi arrastado para uma cela. Em cinco meses, seu julgamento foi concluído com uma velocidade jamais vista no Brasil.
Condenado a cinco anos de prisão em regime fechado, o juiz decidiu que aquele homem, com suas garrafas de limpeza, representava uma ameaça à segurança pública. A mídia, ávida por espetáculo, ecoou a narrativa absurda, pintando Rafael como um perigoso terrorista.
Mas a história não parou aí. Já em regime semiaberto, Rafael foi novamente caçado. Desta vez, enquanto comprava pão para sua mãe, foi abordado por policiais que forjaram um flagrante com drogas.
A quantidade ínfima, que nas mãos de qualquer jovem branco seria considerada para uso próprio, rendeu-lhe mais uma condenação: 11 anos de prisão.
Rafael Braga Vieira é o espelho de um país onde a liberdade é um privilégio de classe. Sua história é um grito silencioso que ecoa nas ruas, nas celas, nas marquises. Um grito que denuncia: no Brasil, a justiça não é cega. Ela enxerga, escolhe e condena.
Fonte: Mídia Independente Coletiva
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