Versos resgatados do tempo e das entrelinhas
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Diego Peruchi, artista inquieto entre tintas e versos. Do traço ao poema, sua mente cria mundos e sua arte marca a pele e o papel. #Dipework |
Durante a criação da obra Pior do Que o Tédio, Elidio Santos encontrou cinco poemas perdidos de Diego Peruchi (𝓓𝓲𝓹𝓮𝔀𝓸𝓻𝓴). Agora, eles ganham vida novamente.
Entre versos e memórias
Entre as histórias e amizades que construí no telemarketing, Diego Peruchi (𝓓𝓲𝓹𝓮𝔀𝓸𝓻𝓴) foi uma das mentes criativas que dividiu comigo suas ideias e poesias. Mais do que um colega de trabalho, ele era um artista que expressava sua visão de mundo com intensidade e profundidade.
Enquanto trabalhava na construção de conteúdos secretos para a obra Pior do Que o Tédio, me deparei com cinco poemas esquecidos de Diego. Escritos há anos, talvez até ele próprio desconheça a existência desses versos perdidos.
Agora, resgatados do tempo, esses poemas voltam ao público. São fragmentos de pensamento, sentimentos e contradições que traduzem inquietações que ainda ecoam.
Aqui, apresento essas palavras que sobreviveram ao esquecimento para quem chegou até esta página a partir do Volume I da obra.
Prepare-se para conhecer os Poemas Perdidos de Diego Peruchi.
7 PECADOS CAPITAIS
É terça-feira, a chuva cai lá fora,
mil pensamentos na cabeça, pensamentos que nunca vão embora.
No copo perdido, a bebida que não desce,
em meio às frutas podres que as outras apodrecem.
A erva daninha que no coração de muitos cresce,
o coração que bate na escuridão,
uma batida solitária que não conhece a palavra perdão.
No meio da multidão, bate cada vez mais fraco seu coração.
Morre um velho avarento, que nunca conheceu o amor, no meio do calçadão.
Em frente ao espelho cresce aquela criança,
com brilho nos olhos, cheia de sonhos e esperança.
Mães impondo seus sonhos não realizados e infelizes,
maquiagens, esmaltes alegando uma criança feliz.
"Minha filha vai ser modelo ou atriz, de repente até miss."
Tratada como uma boneca de porcelana,
por parecer mulher, sua vaidade é tirada na cama.
Perde a inocência e sua infância, e agora os pais fazem drama.
Comilão, com os olhos na mão e o cérebro na barriga,
come igual um porco, que parece que tem até lombriga.
Os olhos não fazem regime,
comer é seu único crime,
mas só come, e come, e come, e come e come... mesmo sem fome.
Bebe mesmo sem sede, comeu até biscoito que não lhe caiu,
comeu tanto que o comilão até explodiu.
Vivia sentado, preguiçoso que só,
pra não amarrar os cadarços, os cordões eram cheios de nó.
Sua casa era cheia de pó,
era tudo amontoado, jogado.
Ele mesmo vivia largado,
nunca teve um banho tomado.
Sempre ali, no mesmo sofá,
não saía nem do lugar.
Fedia tanto que os urubus achavam até que era carniça,
criou raiz no sofá de tanta preguiça.
Dois irmãos que nunca se desgrudavam,
eram parceiros nos jogos de cartas,
eram sempre do mesmo time nas peladas.
Os dois a mesma mulher amavam,
mas ela amava apenas um.
O outro plantou no seu coração uma inveja incomum,
mas nos filmes isso parece comum.
Fez de tudo para separar os dois,
que, por um ato impensado, morreram logo depois.
Agora um cara amargo ficou,
sem a amada, sem o irmão que nunca desgrudava,
e só restou o fardo do seu ato.
No inferno queimando,
mas não queimava tanto quanto sua paixão.
Eram tantos amores, que confundiam sua mente com aquela ilusão.
Aquele desejo frenético,
qualquer mulher que aparecia era induzida ao sexo.
1, 2, 3, até mais de 6,
mais de uma vez,
desejos compulsivos
que iam além da idade e dos vivos.
Luxúria que atrai os impulsivos.
É terça-feira, a chuva cai lá fora,
mil pensamentos na cabeça, pensamentos que nunca vão embora.
No copo perdido, a bebida que não desce,
o ódio que faz com que a alma padeça.
A ira que traz os pensamentos
com os tipos de morte mais eficazes,
enquanto os pensamentos bons ficam para trás.
O ódio que matou um homem sagaz,
as guerras que herdamos do ódio dos nossos ancestrais.
E, como nós, o futuro também será dominado
pelos 7 PECADOS CAPITAIS.
EU!?
Eu venho de longe,
sou de lugar nenhum.
Sou da terra dos monges,
como andarilho, sou só mais um.
Eu?
Eu sou ninguém.
Eu sou qualquer um.
Eu sou todo mundo,
um alguém com algo incomum.
Louco e, ao mesmo tempo, lúcido.
Loucura que dura pra sempre,
lucidez que dura pouco.
Vários pensamentos que dão um nó na mente.
Tenho tudo, mas não tenho nada.
Sou pobre, mas muito rico.
Sou dono do nada.
Sou dono do meu mundo fictício.
Tagarelando, gritando até babando,
dizendo um milhão de palavras de boca fechada,
falando sem dizer nada.
JÁ ME DESPEDI
Eu já me despedi.
Não insisti
e deixei você ir.
As eternas despedidas
já não são tão eternas assim.
Eu vi você partir,
virar as costas
e andar até sumir.
Você pediu pra eu me afastar
e eu me afastei.
E a cada dia mais me afastarei...
Cansei.
Tanta coisa pra falar que eu não falei.
Até com você, em uma pedreira, eu sonhei.
Os sussurros se calaram.
Os olhares que cruzavam, se fecharam.
Os reflexos se apagaram.
Sua boca por mim não será mais beijada.
Sua pele por mim não será mais tocada.
E eu queria que aquela música
não me dissesse mais nada.
Eu já me despedi...
Não insisti...
DONE WITH PEN CAP POSCA
E aí, galera.
Hoje decidi não postar uma poesia,
e sim uma amostra do meu trabalho como desenhista.
Estava parado, agora voltei à ativa.
No momento, não tenho um portfólio pronto,
mas já estou correndo atrás...
Esse é um boné desenhado à mão
com caneta Posca à base d’água.
Logo, logo haverá outros trabalhos postados,
PALAVRAS CALADAS
Não sabia o que era,
se era ódio ou amor.
No mundo do esquecimento,
minha mente se perdeu.
Por um sentimento estranho,
meu coração enlouqueceu.
E me falavam:
"Depois que você perder, aí vai dar valor."
Não entendia tais palavras,
nem tal sentimento.
Tudo tão confuso,
embaralhado em meus pensamentos.
Aos poucos, fui desembaralhando as cartas.
Ouvi várias palavras... caladas.
E ainda assim não conseguia entendê-las.
Me falavam:
"Para de ouvir o canto da sereia."
E ainda assim não entendia.
Eu falava coisas que não queria,
e não sabia...
E guardava pra mim o que realmente sentia.
Ficava calado quando eu ouvia as palavras
"Eu te amo."
Também tentava falar,
mas achava um sentimento estranho...
É estranho não conseguir falar o que se sente.
Meu coração estava em contradição com minha mente.
Sentir e não conseguir falar.
E falar quando se deve calar.
Sentimentos de ódio ou de amor.
E então, infelizmente,
entendi a tal frase:
"Só depois de perder se dá valor..."
E às palavras e sentimentos dos quais me calava...
Falei, mesmo sabendo que já não adiantava.
As tais palavras caladas.
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